sexta-feira, 8 de abril de 2016

A VOLTA DO SOLDADO FERIDO


A VOLTA DO SOLDADO FERIDO
NUMA CERTA MANHÃ, no ano de 1863, chegou ao cais de Norfolk, Virgínia, Estados Unidos, um navio a vapor carregado de passageiros pouco comuns. Tinha sido efetuada uma troca de prisioneiros feridos e doentes entre os exércitos da União e da Confederação, e esse vapor transportava centenas de soldados da União que haviam sido feitos prisioneiros e tinham estado internados nos hospitais da Confederação.
Muitos deles estavam num deplorável estado de miséria e sofrimento. Entre eles encontrava-se um jovem de menos de vinte anos de idade, cujos padecimentos de feridas e doenças o haviam enfraquecido sobremaneira. Fora criado delicadamente em um lar de fino trato na Filadélfia, mas a vida no cárcere do exército inimigo, e a prolongada falta de cuidados, tinham sido para ele intoleráveis, deixando seu corpo em estado lastimável, coberto de chagas e cheio de parasitas.
Um irmão mais velho, abastado negociante em Filadélfia, mandara dizer-lhe que iria ao seu encontro em Norfolk. Ao receber esta notícia, disse logo aos companheiros: "Certamente ele não vai me reconhecer". Contou-lhes como o lar de seu irmão era tão elegante e limpo, e acrescentou que, com a mudança que se operara nele, certamente não o desejaria receber cm sua casa. "Encontro-me tão mudado" , disse ele, "que William não irá me reconhecer, e se me reconhecesse, certamente não
estaria disposto a receber-me em sua casa. Terei de ir para o hospital e lá morrer" . Em seguida, o pobre rapaz desatou a chorar, contemplando sua roupa tão suja e esfarrapada, e o corpo emagrecido.
Logo que o navio atracou ao cais, um homem forte e bem vestido saltou para o convés. Era William, seu irmão. Havia horas que estava ali, aguardando a chegada do navio. Tinha uma carruagem munida de boas almofadas e cobertores, para levar o irmão para o trem. Tinha obtido licença de Washington para levar seu irmão para casa e, com o semblante a manifestar ansiedade, andou pelo convés em busca dele. Não demorou para chegar perto de seu irmão, porém não o reconheceu. Sentiu-se mal ao contemplar aquele ser tão desgraçado. Tinha feridas na boca e no nariz, o rosto desfigurado, o cabelo despenteado e grudado às manchas pustulentas que trazia na testa; pés descalços e cheios de fendas causadas pelo escorbuto. Sua roupa estava reduzida a trapos imundos. Ao ver aquilo, William voltou-lhe as costas, impulsionado por profundo sentimento de nojo. O coração do pobre jovem doente esmoreceu. "Era isto que eu receava", pensou consigo, "William não me reconheceu e teve nojo de mim. Ele estava tão limpo e bem vestido! No estado em que me encontro
agora, nunca poderá desejar ter-me ao seu lado". E assim não teve coragem de chamar por ele.
Seu irmão passou pela segunda vez sem que o reconhecesse; pelo que continuou sem ânimo de lhe dirigir palavra. Mais uma vez o irmão deu a volta por todo o convés do navio, indo de soldado a soldado. Quase chegou à conclusão de que seu irmão não estava ali, e teve receio de que tivesse morrido na viagem. No entanto, fazendo ainda mais um esforço, encontrou-se, pela terceira vez, junto daquele a quem buscava.
Contemplou-o com atenção, mas ainda sem dar sinal de o haver reconhecido. "Coitado", pensou, com profunda compaixão. Mais uma vez virou-se para se afastar, quando uma débil voz o fez parar.
William! Não me reconhece? — foram as palavras proferidas pelos
trêmulos lábios do pobre enfermo.
Meu querido irmão! Por que não me chamou antes? – foi a resposta
aliviada daquele homem.
Tomou em seus braços aquele corpo magro, levando-o logo — trapos, imundície, feridas e tudo mais — para a carruagem que os esperava. As suas forças, o seu dinheiro, o seu lar, tudo quanto possuía estava à disposição de seu pobre irmão, e o fato de ser rico nunca tivera tanto valor, aos seus olhos, como agora, quando de tudo isto se podia valer em benefício de seu irmão.
Leitor: pode ser que a compreensão de seu estado pecaminoso, desgraçado e das chagas morais de muitas espécies, faz você sentir vergonha e receio do Senhor Jesus, assim como aquele pobre soldado sentia de seu irmão. O contraste entre você e Cristo é bem maior, sem dúvida. Se você fosse levado, tal como está, em seus pecados, para a presença do Senhor no lugar onde Ele Se encontra, na luz, santidade e glória do Céu, sentiria quão grande é o contraste que existe entre o seu estado e o dEle, e isto encheria seu coração de desespero. "Desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres, não espremidas, nem ligadas com óleo" (Isaías 1.6).
Contudo, o negociante de Filadélfia, por mais contente que estivesse ao tomar o irmão nos braços, e cuidar dele com tanta ternura, quando o achou, não sentia nada que se compare ao gozo imenso que o Salvador sente quando encontra um pobre pecador que confesse a sua necessidade de salvação.

Cristo aceita o pecador,
Coberto com as chagas do pecar;
Livra-o, e logo o transforma
Em alguém apto ao Céu entrar.


O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (João 6.37).

terça-feira, 22 de março de 2016

UM PREGADOR DA ANTIGA ESCOLA



MUITOS PREGADORES estão abandonando as doutrinas solenes e fundamentais da queda espiritual e subsequente ruína e depravação total da raça humana. Raras vezes os pregadores declaram, com nitidez, que somos pecadores perdidos aos olhos de um Deus santo. Os sermões dos nossos antepassados — que procuravam frisar esta verdade constantemente nos corações dos seus ouvintes — são considerados como antiquados e fora de moda. Seja como for, fica conosco um pregador da antiga escola, que nos fala tão claramente hoje como nos tempos passados. Não é um pregador popular, apesar de o mundo inteiro ser a sua paróquia e viajar por toda a parte, falando todas as línguas do globo terrestre. Visita os pobres e os ricos, pregando tanto aos adeptos de todas as religiões como àqueles que não professam nenhuma religião e, seja qual for o auditório, o assunto do seu sermão é sempre o mesmo.
É um pregador eloquente e, muitas vezes, é capaz de comover o coração que jamais pôde ser comovido por qualquer outro, e faz derramar lágrimas a pessoas pouco habituadas a chorar. Dirige-se à inteligência, à consciência e ao coração dos ouvintes, com argumentos que ainda ninguém pôde contradizer, e não há coração que tenha ficado de todo indiferente aos seus poderosos argumentos. Muita gente o odeia, pois muitos têm tremido na sua presença; mas, duma ou doutra maneira, obriga a todos a ouvirem a sua voz.
Não é nada condescendente nem delicado. De fato, muitas vezes desmancha combinações feitas e intromete-se bruscamente nos prazeres particulares de cada um! Frequenta as lojas, os escritórios e as fábricas; aparece entre os legisladores; também se introduz, em ocasiões inoportunas, nos ajuntamentos religiosos. O nome deste pregador é: A MORTE.
Sempre que você pega um jornal, encontra uma parte que lhe está reservada. Cada túmulo do cemitério lhe serve de púlpito. Muitas vezes se vê o seu auditório encaminhando-se para o cemitério ou dele regressando. O falecimento repentino daquele vizinho — a despedida solene daquele parente — a perda daquele amigo tão estimado — o terrível vácuo que deixou no seu coração a morte da esposa tão querida, ou do filho amado — têm sido apelos solenes e poderosos que o velho pregador dirigiu a você.
Pode ser que em breve você mesmo sirva de texto para o sermão deste pregador, e do meio de sua própria família, ou ao pé do seu túmulo, ele pregue a outros... Que o seu coração agradeça a Deus, neste momento, a sua permanência ainda na terra dos viventes, e por você não ter, até agora, morrido em seus pecados!
Você pode livrar-se da Bíblia; zombar de seus ensinamentos; desprezar os seus avisos; rejeitar o Salvador de Quem ela fala. Você pode se afastar dos pregadores do Evangelho, pois ninguém poderá obrigá-lo a frequentar qualquer lugar de culto; você pode queimar este ou qualquer outro folheto semelhante que venha a cair em suas mãos. Mas como você se livrará do velho pregador de quem estou falando?
Homens e mulheres prestes a morrer: pensem na perspectiva que vocês têm diante de si! O tempo de vocês logo terminará — os prazeres em breve chegarão ao fim. VOCÊS TERÃO QUE MORRER. "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Hebreus 9:27). Peço a você, leitor, que pense bem neste fato. Por que é que a morte tem que existir? Será por simples acaso que uma criatura com tanto poder e competência, como o homem, tenha um fim tão trágico e desonroso? Há uma única resposta para estas perguntas; e, enquanto o pregador da antiga escola andar no seu giro, ele se encarregará de dá-la. Escuta: "Por um homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte" (Romanos 5.12).
A Queda do Homem não se trata de um simples dogma teológico; é a medonha realidade da qual são testemunhas a história do mundo e a nossa experiência. O pecado é a negra e universal realidade, cuja presença traz a maldição sobre o mundo, e não apenas uma simples palavra da Bíblia, usada pelos pregadores para amedrontar os ouvintes. "Assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram" (Romanos 5.12). Leitor: estas palavras também dizem respeito a você. Você é um pecador; você pecou; sobre você pesa a sentença de morte. Um momento após a sua morte e já lhe será sem importância ter morrido em um palácio ou numa prisão. Mas a sua condição por toda a eternidade, se é de infinita tristeza ou de suprema felicidade, isso dependerá do estado espiritual em que você morreu. Se tiver morrido em seus pecados, havendo desprezado o sangue purificador do Filho de Deus, sua condenação eterna é certa. Todos os incrédulos terão a sua parte "no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte" (Apocalipse 21.8).

Qual destas frases poderia ser escrita em seu túmulo: "MORREU SEM MISERICÓRDIA" (Hebreus 10.28), ou "MORREU NA FÉ" (Hebreus 11.13)?



Oxalá eles fossem sábios! que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Deuteronômio 32.29).



O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6.23).


Mas Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8).

O pregador da antiga escola nunca falou com voz mais forte, ou em tom mais solene, como falou pela morte de Jesus no Calvário. A santidade divina não podia ter em pouca conta o pecado. O tremendo castigo da nossa culpa — o salário do pecado em toda a sua realidade negra e terrível — caiu sobre o Substituto inocente. Ele tomou o nosso lugar na morte e condenação, para que nós tivéssemos o Seu lugar de aceitação e favor perante Deus. Você poderá morrer sem ter sido salvo, mas não morrerá sem ter sido amado.